O imaginário do Rio de Janeiro, por natureza, é intrinsecamente ligado ao mar. Contudo, apesar da criação do Núcleo de Vida Marinha pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, em parceria com o AquaRio no ano de 2021, pesquisadores apontam para o aumento de microplásticos na vida marinha em março deste ano. O excesso de dejetos foi encontrado em ouriços estudados por biólogos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, a UNIRIO.

Não é a primeira vez que o alerta é dado por especialistas. De acordo com dados disponibilizados em fevereiro pela organização não governamental Fundo Mundial para a Natureza, WWF, 88% da vida marinha global apresenta contaminação por objetos plásticos. O material, que apresenta alta durabilidade, provoca desde a asfixia até a sensação de falsa saciedade em animais marinhos, sendo a causa da morte por desnutrição. O microplástico é produto da degradação do polímero diante das condições ambientais, como a fricção em rochas, e as condições climáticas. O material está espalhado globalmente e é fonte de preocupação entre estudiosos, como indica Marcos Fernandez, professor de Ecotoxicologia na Faculdade de Oceanografia da Uerj.
“Normalmente, quando a gente pensa em plástico, a gente pensa no grande plástico, no plástico que, por exemplo, uma tartaruga engole e fica entalada. Porque esse é o plástico que a gente vê. Talvez, o maior problema seja o plástico que a gente não vê”.

O Rio de Janeiro conta com um litoral de cerca de 246 quilômetros de extensão, dividido em Oceano Atlântico, que é chamado de “mar aberto”, e as baías de Guanabara e de Sepetiba. O caso do destino irregular de resíduos na Baía de Guanabara é um dos mais emblemáticos quando o assunto é poluição na cidade carioca. Por isso, para o professor, é preciso promover uma mudança de estilo de vida, que envolve desde o descarte correto dos resíduos até a troca do plástico por materiais mais afeitos à natureza.

“Todas essas milhões e milhões de toneladas de resíduos plásticos que já foram lançadas, inclusive na Baía de Guanabara, elas vão estar aí, vão estar progressivamente se degradando, cada vez em partículas menores, cada vez mais um material mais difícil de detectar. A gente está correndo contra o tempo e a única maneira de você limitar o impacto é limitar a entrada para o ambiente”.

Um dos caminhos para evitar o agravamento do problema é a própria educação, sendo a universidade uma das suas principais fontes. Para Marcos Fernandez, seria papel da academia transformar a pesquisa em consciência popular, para que seja possível compreender as consequências das ações individuais na natureza, o que seria uma forma de combater a alienação. Além disso, seria parte da sua função advertir a importância da fiscalização efetiva e do estabelecimento de regras.

Assim como o investimento em pesquisas nas universidades públicas, a promoção da educação mostra-se como o principal meio de romper a inércia frente à poluição marinha.

Do Rio de Janeiro para a Rádio UERJ, Paula Freitas.