Em sua vigésima segunda edição, a Copa do Mundo de Futebol acontece no Catar, a primeira realizada no Oriente Médio. O torneio, que tem duração de um mês, possui diversos impactos na sociedade e no contexto mundial, pois, além de entreter os apaixonados por futebol, promove desenvolvimento econômico e social no país sede. Mas essas questões são apenas uma parte do espetáculo que a Copa do Mundo oferece. Na competição de 2022, o show que está acontecendo é o dos animais, em especial a “zebra”.

O termo “Zebra” começou a ser utilizado há 58 anos, em um jogo do Campeonato Carioca entre o Vasco da Gama e a Portugesa.  A equipe cruzmaltina não estava vivendo um bom momento e quando perguntado, antes da partida, sobre o resultado do jogo, o treinador Gentil Cardoso, da Portuguesa, respondeu que “poderia dar zebra”, se referindo ao Jogo do Bicho.

Inventado por Barão de Drummond, o jogo possuía 25 animais e entre eles, a zebra não estava presente, ou seja, “dar zebra” no Jogo do Bicho era impossível. Mas, dentro das quatro linhas, a aposta do treinador se concretizou e a Portuguesa ganhou de 2 a 1 do Vasco. Com isso, a expressão se popularizou e hoje é utilizada sempre que um resultado inesperado acontece.

Situações como essa também ocorrem em uma competição como a Copa do Mundo. Em 1950, o Mundial foi sediado no Brasil e os Estados Unidos ganharam de 1 a 0 da Inglaterra, na partida conhecida como “o milagre de Belo Horizonte”. Os ingleses estavam em sua primeira Copa do Mundo e chegaram ao Brasil com diversos craques, enquanto a seleção americana contava apenas com jogadores amadores e semiprofissionais que, inclusive, possuíam outros empregos. Mesmo com a baixa probabilidade de vitória, os estadunidenses conseguiram triunfar em cima da ilustre seleção, ou seja, “deu zebra”.

A Copa do Mundo de 2022 também traz diversos exemplos de placares surpresas, como a derrota da Argentina para a Arábia Saudita e a vitória da Tunísia em cima da atual campeã do torneio, a França. Uma consequência desses resultados inusitados são os impactos que eles geram nas pessoas. Para Filipe Mostaro, doutor em comunicação e pesquisador de esportes, a mecânica do futebol faz com que as zebras criem grande repercussão entre os torcedores.

“A Copa do Mundo é um evento que a gente tem muitas zebras, né? A gente tem uma preparação de algumas seleções colocadas como muito melhores, que dependendo de uma situação dentro de jogo um time lá dá um chute ao gol e outro time dá trinta. Um a zero, né? Futebol é quando a bola entrou. Então isso acaba despertando nas pessoas, né? “Meu Deus o improvável que não deveria ser assim”. O futebol é feito disso e por isso é tão legal. E o que acaba que vai acontecendo também é essas pessoas olharem para essas seleções ditas menores, né? Como zebras e acabarem torcendo pra que isso aconteça, porque a gente se interessa por um jogo, porque algo que não está programado pode acontecer”, diz o professor.

As zebras também saem do âmbito futebolístico e, muitas vezes, se deslocam para o campo das apostas. Dependendo do resultado, o montante investido no palpite pode se multiplicar inúmeras vezes, dando maiores retornos quando acontecem as “zebras”. Nesta edição do torneio, o YouTuber Lucas Strabko, conhecido como “Cartolouco”, apostou 300 reais na vitória da Arábia Saudita contra a Argentina e faturou R$ 6.900.

Mas, de acordo com Júlio Cesar Barcellos, estudante de jornalismo da Uerj, os resultados surpresas não são simples acaso.

“É muito mais além de sorte, afinal a preparação para a Copa do Mundo dura quatro anos, tem todo um ciclo envolvido, toda uma parte de preparação, como a seleção vai nas competições prévias, seja nas eliminatórias ou nos campeonatos continentais. Assim, acompanhando o desempenho de cada uma das seleções, você consegue prever melhor para uma Copa do Mundo quais delas podem te surpreender”, afirma o jovem.

Independente da área que esteja inserida, as “zebras” e a imprevisibilidade desempenham um papel fundamental para o esporte e, principalmente, para os torcedores, envolvendo uma mistura de sentimentos, desde entretenimento até a paixão.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Gabriel Segantini.