A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou pesquisa global para investigação da hepatite misteriosa. Essa nova doença ainda não tem identificação do agente etiológico, mas está acometendo crianças de pelo menos 22 países ao redor do mundo. A hepatite já provocou casos clínicos graves, nos quais foi necessário inclusive o transplante de fígado.

Reconhecida pela medicina como “hepatite grave de etiologia desconhecida”, a doença atinge principalmente crianças com menos de 5 anos, mas adolescentes e crianças mais velhas também já foram diagnosticadas. É transmitida a partir do contato físico e gotículas de saliva, podendo começar com uma inflamação repentina no fígado.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indica que seu possível surgimento foi devido ao isolamento social, ditado pela pandemia da Covid-19. A hipótese é que as crianças se tornaram o principal grupo de risco por não terem sido tão expostas ao adenovírus, grupo de vírus que causam doenças respiratórias. Tanto o vírus da Covid quanto o adenovírus estão sob ordem de investigação da OMS como hipóteses da doença, mas a medicina indica que ainda não foi provado uma relação causal. O especialista, professor e hepatologista Carlos Terra responde sobre a identificação do adenovírus em diversos pacientes.

“Existe uma possível relação com um vírus conhecido como adenomavírus que é muito prevalente na população, costuma acometer crianças, no mais das vezes levando a quadros gripais que a gente reconhece como gripes e resfriados, pode acometer também o gastrointestinal e partículas do DNA viral. Os estudos estão sendo feitos à medida que o tempo passa. Parece que houve uma redução na notificação de casos na Europa, sobretudo no Reino Unido que foi onde iniciou pela primeira vez o relato desses casos. E esse é o ponto que estamos agora.”, afirma o hepatologista.

Em numerosos diagnósticos, os sintomas da hepatite misteriosa estão relacionados à infecção gastrointestinal. Esses sintomas são dor abdominal, mal-estar, fadiga, náuseas e vômitos. Nos casos mais graves são relatados aumento dos níveis de enzimas hepáticas, diarreia, urina escura (colúria) e icterícia (cor amarelada na pele ou nos olhos). Terra indica as mesmas propostas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para prevenção da doença, mas salienta que é difícil propor prevenção efetiva para uma doença que não se conhece a origem.

“É muito difícil propor medida preventiva ou terapêutica pra uma doença que você não conhece a etiologia. O que naturalmente existe são as medidas profiláticas para outras formas de hepatite. Essa especificamente, a chamada hepatite grave de etiologia desconhecida, exatamente pelo fato de que a gente não conhece o que se recomenda são medidas gerais de higiene, sem nenhuma medida específica, porque nós não temos como oferecer, por exemplo, uma vacina ou um tratamento para que pudesse interromper a evolução desse problema.”, salienta o professor.

A percepção do hepatologista é de que sempre que há um surto de uma doença, principalmente as infecciosas, gera preocupação na população, sobretudo na população leiga. Mas ele assegura que a nova doença não se configura como motivo para alardes e afirma a importância de difusão de informação tranquilizadora.

“Eu não tenho essa percepção de que existe uma ansiedade da população muito grande, até porque parece, vamos observar ainda pra frente que o problema é de uma dimensão menor do que parecia ser no início do ano.”, diz Carlos Terra.

A notificação desses casos de Hepatite da doença vem diminuindo. Até maio de 2022, dos 700 casos registrados da doença, apenas 17 indivíduos evoluíram para quadros graves.

Do Rio de Janeiro para Rádio Uerj, Maria Eduarda Oliveira.