A constante alta no preço do combustível no país tem tido bastante impacto no bolso dos motoristas. A população gasta cada vez mais para abastecer e isso tem prejudicado o orçamento dos brasileiros. Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, o IPCA, os combustíveis têm sido os principais contribuintes para a alta da inflação no país logo depois dos alimentos e isso gera um impacto direto na renda de quem vive no Brasil.

Muitos brasileiros têm demonstrado insatisfação em relação à condição econômica em que o país se encontra. Como se já não bastasse o aumento de gastos com alimentação e contas domésticas essenciais, como energia elétrica, água e, em alguns casos, aluguel, abastecer se tornou mais um peso no custo de vida da população. O professor universitário, José dos Santos, conta como a disparada dos valores na hora de abastecer tem impactado sua renda mensal. Ele afirma que tem limitado algumas atividades, principalmente de lazer, para conseguir economizar nos gastos.

“Muitas vezes eu tenho que refletir se me deslocar para um lugar ou outro vale a pena, uma vez que é só para lazer. E o que eu tenho percebido é que tenho diminuído consideravelmente a minha circulação pela cidade e priorizado a circulação de casa para o trabalho. Em função desse aumento considerável do combustível” 

José dos Santos, fala, ainda,sobre a diferença nos gastos com combustível e também sobre a dificuldade de encontrar alternativas, como a precariedade do transporte público.

“No meu caso, se antes, em 2020, eu gastava mensalmente 980 reais de gasolina, hoje eu gasto quase 1500 reais. E esse aumento no valor do combustível ainda é mais dramático, porque o Rio de Janeiro não tem uma política de transporte coletivo que ofereça segurança, qualidade e dignidade para o usuário, de tal forma em que muitas vezes a gente sequer tem o transporte coletivo como uma opção para ir trabalhar. O que é o meu caso, trabalho em Nova Iguaçu e moro no Rio de Janeiro.” 

Além do aumento dos gastos para os motoristas, o alto custo dos combustíveis também aponta reflexos nas despesas da população em outros mercados, como o aumento de preço generalizado em diversos itens de consumo. A economista Angela Penalva, especialista em economia urbana, afirma que isso acaba refletindo no cotidiano, resultando na perda do poder aquisitivo da população. 

“O aumento do combustível impacta diretamente no comércio atacadista, que transfere para o comércio varejista e quem paga é o consumidor final. Como esse custo do transporte das mercadorias para abastecimento interno está muito capilarizado, isso afeta o custo de todas as mercadorias. E aí o consumidor final sente isso nos preços finais, isso aumenta muito o custo de vida de modo generalizado, bem capilarizado, num contexto em que a renda das famílias não está se elevando na mesma proporção. Então isso significa uma perda de poder de consumo.” 

Mas o que faz com que esse valor aumente? 

Atualmente, os principais contribuintes para o aumento do preço dos combustíveis é o valor do barril de petróleo e a desvalorização do real em comparação ao dólar. Esses fatores têm influenciado diretamente nos valores que o consumidor encontra nos postos de gasolina, devido à mudança de precificação dos combustíveis através do Preço de Paridade de Importação (PPI) aprovado durante o governo Michel Temer, em 2016. 

O PPI faz com que o preço do combustível seja definido através do valor de importação dos produtos, que engloba inúmeros custos, como frete, seguros e taxas portuárias, além do lucro. Ou seja, através dessa política, que calcula os valores a partir do mercado internacional, a Petrobras depende da cotação do barril de petróleo, negociado em dólar, e, automaticamente, das taxas de câmbio para precificar o combustível e acaba repassando as variações de custo diretamente ao consumidor. 

De acordo com o economista Alexis Toríbio, a principal alternativa para esse problema seria o fim do Preço de Paridade de Importação.

“O grande problema é a política de preço, a questão é que quem determina a precificação do petróleo é o governo, é a partir dai que a gente tem que mudar novamente uma política de precificação do petróleo que elimine essa PPI.”

Além disso, a implementação de medidas de amortecimento das grandes variações do valor do petróleo, como um fundo de estabilização, criado com parte dos lucros da Petrobrás, seria fundamental para que o consumidor não sofresse impacto direto em períodos de alta do petróleo.

Existe a possibilidade de fazer um fundo de estabilização, que você vá utilizando esse fundo para evitar grandes variações de preço, tanto para cima quanto para baixo. Quando o preço estiver mais baixo, você vai refazendo o fundo, quando o preço tiver aumentado demais você não repassa esse preço ao consumo final e você usa esse fundo de estabilização”. 

Ainda sobre as questões de importação, muito se fala sobre o ICMS, o Imposto de Circulação de Mercadorias, cobrado sobre diferentes produtos e serviços, inclusive sobre os combustíveis. A porcentagem de base no cálculo do ICMS varia de estado para estado, embora esse imposto seja cobrado com uma taxa fixa, variando entre 12 e 18% para o diesel, 25 e 34% na gasolina e de 13 a 32% para o etanol, ele não tem um valor estático. Já que quando um produto aumenta de preço o imposto é cobrado em cima daquele valor, ou seja, a quantia arrecadada é maior. Então, nesse caso, embora o Governo Federal venha tentando transferir a culpa da alta dos combustíveis para os governos estaduais, a realidade é que o ICMS, não é o principal vilão quando o assunto é o custo na hora de abastecer. 

A população vem procurando formas de se adaptar ao aumento das despesas financeiras. O grupo de profissionais que trabalha diretamente com transporte, como os motoristas têm se desdobrado para se adaptar aos novos valores, que além de diminuir o lucro acabaram levando a classe a trabalhar mais horas durante o dia. O taxista Fábio Ferreira contou à Rádio Uerj como tem sido a nova rotina de trabalho.

“De uma maneira em que a gente trabalha 12 horas por dia, a despesa aumentou bastante com tudo isso, uma média de 40% a mais do gasto. E com isso, o lucro diminui, fazendo com que a gente tenha que trabalhar mais horas. Dificultando cada vez mais o nosso trabalho no dia a dia, quem trabalha com combustível, trabalha com carro no transporte, as dificuldades sempre aumentam, a cada dia ta pior.” 

A alta nos valores impacta diretamente os veículos que têm o diesel como principal combustível utilizado e isso também acaba agindo de forma indireta no dia a dia da população, como no transporte por ônibus e valor das passagens, no abastecimento das máquinas que trabalham nas plantações do campo e no frete dos produtos até o destino final, como as prateleiras dos supermercados, por exemplo. 

Um dos fatores que aponta a busca da população por alternativas é o aumento do número de motoristas que aderiram ao Gás Natural Veicular como principal opção. Embora também tenha sofrido reajuste, o GNV continua sendo a alternativa mais em conta para quem precisa abastecer e, além de e gastar menos nos postos, o combustível também proporciona aos condutores uma economia considerável no valor do IPVA, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores, que chega a ter diminuição de cerca de 62%, o que no momento é muito importante para quem quer poupar dinheiro. Joelma de Souza, professora da rede FAETEC de ensino, faz parte desse grupo de motoristas e conta que optou pela instalação do gás como uma alternativa aos altos gastos e ao impacto na hora de abastecer.

“O que me levou a usar o gás no carro, de início foi visando uma economia diretamente no posto, na bomba. E também a questão da redução no imposto, no IPVA, que é uma redução considerável. A utilização do gás faz com que você não sinta um impacto tão grande a cada abastecimento e em alguns veículos chega a ser uma questão econômica mesmo.” 

Diretamente do Rio de Janeiro, Ana Júlia Brandão para a Rádio Uerj.