Você sabe o que são águas de reuso? São águas captadas poluídas e tratadas dentro das Estações de Tratamento de Esgoto, que podem ser utilizadas para inúmeras finalidades não-potáveis, como na irrigação industrial e na limpeza. Mesmo não sendo muito comum falar desse tipo de água, pelo menos no cotidiano, seu uso é bastante pensado quando o assunto é a economia dos recursos hídricos.

Atualmente, segundo a companhia Águas do Rio, estão em operação 16 Estações de Tratamento de Esgoto, que têm a capacidade de gerar cerca de 9,7 mil litros por segundo de água de reuso. Com a expansão do sistema de esgotamento sanitário com novas estações, prevista para ser concluída até o ano de 2056, a empresa planeja atingir um valor aproximado de 20 mil litros tratados por segundo.

Algumas empresas e indústrias utilizam essas águas para economia nos processos e no dia a dia. Um exemplo bem perto de nós é a Companhia Municipal de Limpeza Urbana, Comlurb, que utiliza desde 2015 águas de reuso em seus veículos de lavagem hidráulica no município do Rio de Janeiro. Segundo Renato Rodrigues, diretor da Comlurb, o serviço começou com a finalidade específica de lavagem dos pontos de fezes e urina da cidade, e depois foi crescendo para a lavagem das áreas de feiras. Ele explica que o serviço foi ampliado, e hoje a Comlurb é responsável também pela limpeza de ruas após eventos climáticos, como alagamentos, e em festas como reveillon e carnaval. Renato ressalta que o uso das águas reutilizadas trouxe benefícios não só para a Companhia, mas para a sociedade em geral.

“E aí, no determinado momento, entra água de reuso, e aí eu entendo que ao começar a usar água de reuso, a gente passa a contribuir com a conservação de recursos hídricos. Então, a gente reduz a pressão direta sobre a fonte de água potável e minimiza desperdícios, enfim, e ajuda a enfrentar os desafios relacionados a escassez. Então, água de reuso vem para contribuir e a gente com isso consegue fazer uma gestão eficiente dos recursos naturais.”, reforça Renato.

Mesmo com muita capacidade de produção e seus usos trazendo benefícios para o meio ambiente, as águas de reuso não são bem exploradas como poderiam ser, principalmente por não serem difundidas ao consumidor. E foi com esse dilema que surgiu o Reusa, um aplicativo desenvolvido desde 2019 no Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental Uerj.

Segundo Marcelo Obraczka, coordenador do projeto e doutor em Planejamento Energético e Ambiental, o Reusa busca atuar como um marketplace completo, facilitando a comercialização das águas de reuso para tarefas básicas no dia a dia, como lavar o chão, acionar a descarga sanitária e regar os jardins, o que faz com que a água potável não seja desperdiçada.

“É você estar usando uma água que estaria sendo jogada fora, você estar usando ela para atender demandas que, caso contrário, estariam sendo atendidas pelo sistema convencional. O sistema convencional no Rio de Janeiro, o grande sistema convencional no Rio de Janeiro, é o sistema guandu. A gente sabe dos problemas que é para atender essa população de 9, 10 milhões, 11 milhões de habitantes com água potável. E a maior parte dessas demandas não é por água potável.”, explica Marcelo

O professor conta que a ideia para o projeto veio de uma tese de dissertação de uma aluna de engenharia, onde foi observado que existe essa falta de comunicação para que as águas de reuso sejam mais implementadas no cotidiano das pessoas. Também explica que o aplicativo abre portas para a comercialização de outros tipos de resíduos tratados, como por exemplo o lodo, convertendo o que já seria descartado na natureza. Indo além de uma opção boa para economizar, as águas de reuso se transformam em uma alternativa viável para gerenciar e racionalizar os recursos hídricos de forma mais orgânica.

“Quando eu estou pegando, por exemplo, essa água, esse fluente, que passa por uma estação de tratamento e depois é lançado no corpo hídrico, passa por um tratamento, mas de que maneira estou lançando uma carga poluente no corpo hídrico. A partir do momento que eu não estou mais jogando essa carga, que eu estou levando isso para fazer uma reutilização, eu tenho um ganho ambiental bastante importante, bastante interessante. Então, é um grande benefício.”, complementa o professor.

O aplicativo do Reusa está em fase de testes em dispositivos Android e, por enquanto, só é utilizado para fins institucionais. A iniciativa tem apoio do InovUerj, o departamento de suporte à inovações da Universidade, e do Sebrae. A versão definitiva está prevista para chegar ao público, em diversas plataformas, no segundo semestre de 2024.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Juliana Araujo.