Você já ouviu falar do ChatGPT? Essa ferramenta, que, em tradução livre, significa “transformador pré-treinado generativo” está cada vez mais conhecida por quem trabalha ou é entusiasta da área de tecnologia. Criada pela empresa OpenAI no final de 2022, é basicamente um robô virtual que responde às mais variadas questões em formato de texto, e, de acordo com artigo do jornal The New York Times, é capaz de escrever receitas de comida, poesias, explicar conceitos científicos, realizar trabalhos acadêmicos e até mesmo redigir matérias jornalísticas. O mesmo artigo aponta ainda que o ChatGPT, em apenas cinco dias, atingiu a marca de 1 milhão de usuários.
Segundo a OpenEIAI, a tecnologia utilizada no sistema é uma versão atualizada de uma inteligência artificial geradora de textos, denominada “GPT-3.5”. Plataformas como essa não são inéditas, mas um diferencial que pode ser destacado como importante para sua popularização é o fato do ChatGPT ser disponibilizado ao público geral por meio de uma interface gratuita da web e de fácil uso, o que desperta tanto curiosidade como estranheza.
De acordo com o professor da Faculdade de Comunicação Social da Uerj e analista em Ciência e Tecnologia na área da Comunicação, Nemézio Amaral Filho, o ChatGPT e suas concorrentes vão causar um efeito de pressionar o mercado que atinge a sociedade como um todo. Pois com a grande oferta de plataformas desse tipo, caso venham a ser pagas mais pra frente, as empresas criadoras dessas tecnologias não poderão cobrar preços altos pelas assinaturas.
Já sob o ponto de vista educacional, o docente chama atenção sobre o mau uso da plataforma e explica que ela pode prejudicar a qualidade da formação profissional do estudante. “Imagine você, se um estudante de medicina decidir que o Chat GPT3, que é o Chat GPT, as suas n versões, GPT 3, 4, 5, etc, é que vai fazer o seu trabalho. Ou um estudante de Engenharia Civil, por exemplo, de Engenharia Aeronáutica. Nós teremos um não profissional sendo formado”, exemplifica o professor.
Segundo o especialista, em função disso, a disciplina sobre ética vai se tornar cada vez mais importante em todas as áreas do conhecimento. Nesse sentido, ele ressalta que os professores universitários terão que reinventar suas metodologias de ensino e formatos de avaliação, a fim de evitar que os trabalhos possam ser escritos por essas inteligências artificiais e prevenir que o mercado de trabalho tenha profissionais “GPT dependentes”.
Além desta questão, o professor faz um alerta sobre os riscos dessas ferramentas e chama a sociedade civil para não apenas conhecer a plataforma. Mas, também para participar do debate acerca de suas inúmeras implicações.“Essa nova comunicação é séria demais para ficar apenas nas mãos dos especialistas. A sociedade precisa se envolver, o legislativo precisa se envolver, o judiciário precisa se envolver, a sociedade civil e organizada precisa se envolver, as universidades da área de comunicação e da área de tecnologia precisam se envolver. A tecnologia não vai, ao contrário do que reza a lenda, se auto regular”, pontua o especialista.
Fernanda Mendes, graduanda em Jornalismo pela Uerj e estagiária de jornalismo da Revista Radis de Comunicação e Saúde Pública da Fiocruz, explica que essa algoritmização no jornalismo traz a sensação de insegurança, mas não invalida seus anos de estudo no curso. Para ela, a inteligência artificial pode acabar privilegiando apenas um aspecto de um determinado assunto em uma matéria, como se ele fosse o único lado digno de interesse público, pondo em cheque a característica democrática do jornalismo. Pois uma vez que essas ferramentas atuam com base em dados já disponíveis na internet, seus resultados podem ser limitados. “Isso é relevante principalmente quando se trata de um aspecto que não tem muitos dados públicos a respeito, sabe?! Ou que parte de alguma desconfiança, ou denúncia em que é preciso realmente de campo, de vivência e de entrevistas que só pode ser feito por uma pessoa”, explica a estudante.
Em relação à inserção dessas tecnologias no mercado de trabalho, o especialista explica que algumas funções serão desfeitas, mas outros novos postos serão criados. Entretanto, ele avalia que isso não acontece proporcionalmente. Porque, assim que uma ferramenta como o Chat GPT chega ao mercado, ela precisa ser estudada para que sejam descobertas formas de manuseá-la e, a partir disso, é criado um novo posto. “Por exemplo, quando as redes sociais surgiram, a figura do Gestor de Mídias Sociais, surgiu anos depois. Então existem coisas que vão surgir a partir do lançamento dessas novas tecnologias e a partir da sua utilização no mercado que não são óbvias para nós nesse momento”, esclarece Nemézio.
Apesar de causar estranheza na primeira impressão, a graduanda Fernanda e o professor Nemézio acreditam que tecnologias como o Chat GPT tenham pontos positivos. Elas podem ser úteis para cruzamentos de dados, na apuração e redação de notícias factuais, que não demandam um trabalho estruturado como as grandes reportagens, por exemplo. Sendo assim, profissionais como os jornalistas continuarão sendo necessários independente do surgimento dessas tecnologias.
Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Lorenna Rocha.