Atletas de alto rendimento são aqueles que têm o esporte como profissão. Eles se dedicam em tempo integral, seguem treinos e disciplinas adequados para preparação física, mental e técnica e, claro, disputam jogos e campeonatos. De acordo com estudo publicado pela Revista Multidisciplinar Ciência Latina, o cuidado precoce com a saúde mental oferece o aprimoramento das habilidades cognitivas. A pesquisa também revela que o equilíbrio entre a mente e corpo de um atleta de alto rendimento é fundamental para uma carreira duradoura.

Porém, a pressão, as lesões e o treino excessivo são alguns fatores que podem ocasionar estresse elevado e fazer com que atletas desenvolvam transtornos mentais. Para Alberto José Filgueiras, professor de Psicologia da Uerj e doutor em Neurociência, atletas de elite apresentam indicadores de saúde mental piores que a média da população, pois passam por situações que a maioria não está acostumada.

“Eles vivem mais com menos qualidade de vida, com menos qualidade, em termos de saúde, muscular e articular e menos qualidade em termos de saúde mental. Isso acaba fazendo com que seja uma população de risco quando a gente pensa em psicopatologias, doenças, do ponto de vista psicológico ou do ponto de vista psiquiátrico e doenças do ponto de vista do humor.”, afirma o professor.

De alguns anos para cá, o mundo viu atletas de alto nível se pronunciando acerca da saúde mental, fato que, anteriormente, não era comum.  Em 2021, nas Olimpíadas de Tóquio, a multimedalhista Simone Biles surpreendeu a todos ao falar que não iria disputar as provas em equipe e individuais da ginástica artística para cuidar de sua saúde mental. Outra estrela mundial que tomou o mesmo rumo foi a tenista japonesa Naomi Osaka. Em 2021, a primeira asiática a chegar ao número 1 no ranking mundial da associação de tênis feminino desistiu de competir em Roland Garros e Wimbledon. Em entrevistas, Osaka relatou que sofria com ansiedade e depressão, além de não se sentir confortável com a exposição em coletivas de imprensa.

Os exemplos de esportistas que abandonaram competições expõem o que o descuido com o psicológico pode causar.  Para Gustavo Almeida, futebolista e jogador do Sub-20 do São Caetano, o acompanhamento psicológico é fundamental para evitar que o atleta tenha sua saúde mental mais prejudicada.

“Eu acho muito importante um trabalho psicológico no mundo do esporte em si, até porque desde novo a gente sofre muita pressão dentro de campo, fora de campo, muita pressão no psicológico. Fora os problemas pessoais, os problemas em casa.”, confessa Gustavo Almeida.

Porém, há o outro lado da moeda no qual o psicológico pode ser usado para beneficiar o atleta. O treinamento psicológico é a prática das habilidades mentais, como a autoconfiança, motivação, controle emocional, comunicação e concentração, que ajudam atletas a atingir o bem-estar e alto rendimento. Um exemplo recente aconteceu na final da Copa do Mundo do Catar, quando o goleiro da Argentina, Emiliano Martínez, utilizou “jogos mentais” para desestabilizar os franceses durante as cobranças de pênaltis. “Dibu” Martinez tomou conta das penalidades, retardando os arremates para pressionar os franceses, falando em seus ouvidos e até jogando a bola para longe para provocar os bicampeões da competição.

Outro exemplo dos benefícios do acompanhamento psicológico é de Gabriel Medina, surfista brasileiro tricampeão mundial, que, em 2022, decidiu abrir mão de sua participação na primeira etapa do Circuito Mundial de Surfe para não interromper o tratamento psicológico que havia iniciado após ser diagnosticado com depressão.  Os resultados que o cuidado com a saúde mental trouxeram a Medina vão desde resolver os problemas familiares e amorosos até ser campeão da etapa Challenger, no Rio de Janeiro, pela primeira vez após sua volta às competições.  Para o jogador Gustavo Almeida, problemas pessoais têm total influência na performance dos atletas.

“O cara pode ser o melhor em termos de qualidade, pode ser o melhor em termos de experiência, mas se ele não tiver com o psicológico em dia, não vai ter um bom rendimento.”, conta Gustavo Almeida.

O acompanhamento psicológico não é feito somente quando os atletas estão maduros, mas também com as crianças, porém o tratamento costuma ser diferente.  O professor Alberto explica que a psicologia para atletas juvenis deve ser feita através da equalização das expectativas de pais, amigos e agremiações.

“O objetivo da psicologia do esporte no início da carreira do atleta, não é fazer com que ele esteja preparado psicologicamente para competição. Isso é absolutamente irrelevante. A gente quer que a criança consiga se divertir, tenha um momento de prazer e que ela veja o esporte de uma maneira lúdica durante os anos mais jovens.
Independentemente da faixa etária, é fundamental que atletas de alto rendimento tenham cuidado com a saúde mental, sendo esta uma ferramenta essencial para a conquista de uma vida vitoriosa.”, esclarece Alberto José Filgueiras.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Gabriel Segantini.