É impossível pensar comunicação no Brasil sem referenciar Muniz Sodré, um dos maiores pesquisadores na área das ciências aplicadas na América Latina e professor emérito da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No dia 21 de março, o intelectual foi recebido na Uerj, com o Teatro Noel Rosa lotado, para ministrar uma aula magna sobre “Cultura Digital”, considerando a hipótese que “Nenhuma cultura tradicional resiste à sua digitalização, e se ela não for forte o suficiente, deve morrer”. O evento aconteceu no campus Maracanã, e foi organizado pela Faculdade de Comunicação Social, junto ao Laboratório de Comunicação Integrada, marcando o início do semestre letivo.

Na aula, o teórico questionou qual a medida adequada da relação do ser humano com a tecnologia. Para fundamentar sua reflexão, Muniz Sodré recorreu à didática de Paulo Freire e ao construcionismo do matemático Seymour Papert, explicando sobre a realidade pedagógica e política do estudante, debatendo a fonte originária da educação, que, para ele, é a cultura.

De acordo com Sodré, a cultura digital é uma continuação da cultura televisiva, por juntar em um único aparelho todos os conteúdos que havia na televisão, como filmes e, até mesmo, programas de rádio. Mas esclarece como isso afeta negativamente o indivíduo e sua sociabilidade.

“Como é que ela afeta efetivamente as pessoas? Isolando cada vez mais e tornando esse indivíduo isolado autossuficiente, ou pretensamente autossuficiente. No início, isso é muito bom, porque com celular você se comunica e tem acesso à informação. Mas, na verdade, do ponto de vista macro e extensivo, com o tempo, você vai ver que essa cultura do isolamento primeiro lhe tira da vontade de conhecimento histórico e, depois, também, do vínculo de comunidade”, afirma Sodré, mestre em sociologia da Informação e Comunicação pela Universidade de Paris-Sorbonne.

Dentro desse contexto, o pesquisador afirma que o jornalismo atua como uma fonte necessária e imprescindível para costurar os fragmentos das informações, em meio ao imediatismo do ambiente digital. Ou seja, ser mais explicativo e comunitarista, tornando-se mais terapêutico para o público.

Sodré, que é negro e autor do livro “Fascismos da Cor: uma radiografia do racismo nacional”, aponta nesta obra o racismo como uma questão institucional que pode ser diluída com a união dos opostos. O quê, segundo ele, é uma das intenções da comunicação. Sob essa ótica, a consolidação dessa aproximação se apresenta no jornalismo como uma forma de proporcionar representatividade negra. Sendo assim, uma maneira de combater esse crime e um incentivo aos estudantes da área.

“A presença mais numerosa de jornalistas negros comunica ao público que a separação porque do racismo é um absurdo, é monstruoso. Então é importante que tenha! Porque o grande problema é a visibilidade, o negro é historicamente invisível publicamente, e agora está ganhando visibilidade. Então, temos que incrementar, essa visibilidade é outra forma de aproximação da diferença, através do olhar”, pondera Muniz.

O intelectual também pontuou que o jornalismo deve trabalhar para proporcionar uma sociedade mais democrática e inclusiva. E, para isso, o processo noticioso deve ser reformulado, privilegiando o aspecto analítico e promovendo ações que, de fato, incluam todos os grupos sociais.

Com produção de Lorenna Rocha e Lorran Rosa, do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Lorran Rosa.