A Copa do Mundo é o evento esportivo que mais mobiliza as pessoas, sobretudo os brasileiros, donos de cinco troféus mundiais.  O mega evento, que na sua edição de 2022, acontece no Catar, desperta não só a esperança do Brasil em conquistar o hexacampeonato, mas também evidencia a expansão das casas de apostas esportivas online em território nacional.

Mas por que esse mercado cresceu tanto no Brasil? De acordo com o professor Sérgio Souto, da Faculdade de Comunicação Social da Uerj e pesquisador do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte, o Leme, apostar é um traço cultural do brasileiro.

“Eu acho que tem uma cultura no país de aposta. O jogo do bicho, como foi concebido na época do Barão de Drummond, era amplamente adotado pelo brasileiro. A gente vê isso pelas crônicas de Machado de Assis, os grandes escritores da época tocavam isso e, aparentemente, essa era uma prática generalizada da população, não só das áreas populares”, explica o professor.

Além disso, o pesquisador do Leme destaca que a realização de grandes eventos e a possibilidade de ganhos extras podem explicar essa ampla adesão.  Um levantamento feito em 2021 pela Sport Track, uma plataforma de pesquisas esportivas, aponta que cerca de 28% da população já faz alguma aposta. É o caso de Arthur da Cruz, que conheceu esse mundo através dos amigos.

“Eu comecei a apostar nesse mercado de apostas esportivas assim foi através de um amigo meu… Sempre pelo lazer, nunca levei isso a sério ao ponto de depender daquilo ali. Sempre foi mais pelo lazer porque eu gosto de apostar e assistir a partida. Eu acho que dá mais emoção, né”, diz o jovem.

Arthur, que hoje pode ser classificado como um jovem apostador, considera que este hobbie traz recompensas satisfatórias, e ressalta que é importante apostar com responsabilidade.

“Já tive bastante ganhos também, teve uma época que eu estava sem bicicleta e acabei montando uma com dinheiro de aposta; logo assim que eu comprei a minha moto, estava sem o dinheiro para poder pagar a aquisição do seguro e paguei com dinheiro de aposta… Eu acho que é uma coisa muito saudável, muito legal na minha opinião. É só você saber moderar, não gastar dinheiro que vai te prejudicar, um dinheiro de uma conta, dinheiro de um alimento”, pondera Arthur.

Apesar da sua popularização, restam dúvidas acerca de sua legalidade no Brasil. Em dezembro de 2018, o então presidente, Michel Temer (MDB-SP), assinou o decreto 13.756, permitindo que sites de apostas esportivas operem no país. No entanto, quatro anos depois, ainda não houve a formulação de um documento que regulamente e fiscalize de fato essa prática. Segundo o Procurador da Uerj Leonardo Rocha, esse decreto não configura uma regulamentação.

“De fato, eles estão usando esse decreto do Temer como brecha para se instalar, mas eles não estão regulamentados. Quer dizer, você não tem lei que diga quem é que fiscaliza; você não tem lei que diga quanto é que é a tributação sobre esses valores. Se você der uma olhada, em todos esses sites de apostas, a maioria deles, eu vou dizer todos, estão em outros países. Em especial, paraísos fiscais. Então, por exemplo, Curaçao tem muito. Curaçao é um país nas antilhas holandesas, das antigas antilhas holandesas, que é paraíso fiscal, então muita gente faz a sede… Então, eu posso te dizer, no Brasil, pelo menos que se tenha conhecimento, não há regulamentação. Já se tentou, existem vários projetos de lei na Câmara, no Senado, até estadual tentaram fazer isso apesar da gente entender que não caberia aos estados e sim só a União”, esclarece o Procurador da Uerj.

Mesmo existindo dúvidas sobre o funcionamento desses sites de apostas, a grande aceitação do público chama atenção para o fenômeno que expõe características históricas do país.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Lorenna Rocha.