A aclamada série “The Last Of Us” terminou sua primeira temporada no último dia 12 de março. Na trama, o fungo Cordyceps é responsável por uma pandemia que começou a transformar pessoas em monstros e a jovem Ellie Williams pode ser responsável pela cura da doença.

Acontece que esse fungo parasita existe fora da ficção e também é responsável por controlar o hospedeiro, mas diferente da história, ele não infecta humanos e sim artrópodes, como os insetos.

Em geral, o Cordyceps infecta as formigas e aranhas através de esporos e se desenvolve dentro delas, mantendo-as vivas, mas consumindo sua estrutura molecular. Em uma ou duas semanas ele atinge o sistema nervoso central, e o hospedeiro acaba morrendo depois de uma série de crises. Mais tarde, percebe-se a formação do ascoma, uma espécie de saco que vai surgir fora do corpo do animal e liberar esporos para infectar novas vítimas.

É comum dizer que o fungo transforma os hospedeiros em zumbis. No entanto, a Drª Ana Carolina Aor, micologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, afirma que isso não é bem verdade. Segundo a especialista, a série pode ter se baseado em criar monstros através desse fungo porque ele torna seus hospedeiros em seres neurologicamente alterados.

“E na verdade assim, não é que elas são transformadas em zumbis. O fungo, a partir da hora que ele começa a tomar, como você me perguntou, ele é um endoparasito. A partir da hora que ele começa a infectar vários tecidos do artrópode, ele chega até o sistema nervoso central do artrópode e essa alteração que ele começa a causar no sistema nervoso faz com que o artrópode comece a andar, ficar trêmulo, ter alteração pra andar e tudo. Então parece que ele viraria um zumbi. Acho que foi daí mais ou menos que a série acabou tirando.”, insinuou a Drª Ana Carolina.

Em 2009, a Universidade de Nottingham, na Inglaterra, estudou a cordicepina, um tratamento utilizado para o câncer, desenvolvido a partir do fungo Cordyceps. O estudo foi publicado na revista científica Journal of Biological Chemistry e concluiu que, em doses menores, a cordicepina impede o crescimento descontrolado da doença. Em altas doses, o tratamento evita que as células se juntem entre si e, por sua vez, inibe seu crescimento.

No entanto, os estudos também mostraram que apenas uma dose de cordicepina é rapidamente degradada pelo organismo, e uma segunda dose pode causar efeitos colaterais e atrapalhar o tratamento do câncer.

Para driblar esse problema, pesquisadores da Universidade de Oxford, em colaboração com a biofarmacêutica NuCana, estão trabalhando para melhorar sua potência e aumentar a eficácia do medicamento.

De acordo com a Drª Ana Carolina, além da cordicepina, esse fungo também é utilizado para o tratamento da diabetes. Estudos mostram que o Cordyceps possui propriedades que auxiliam pacientes com resistência à insulina.

“A gente sabe que tem várias substâncias que são produzidas por fungos, que são utilizadas na medicina. Então, por exemplo, tem o próprio Cordyceps. Ele tem atividades que são anti-tumorais, ele tem outros metabólitos que são anti-inflamatórios, eles tem muito uso também com relação a diabetes. Então assim tem várias propriedades.”, afirmou a micologista.

O Cordyceps é muito utilizado na medicina oriental, incluindo a japonesa, indiana e chinesa. Na China, por exemplo, graças às suas propriedades médicas, o fungo é vendido em pacotes e pode ser consumido em sopas ou chás. A União Internacional para a Conservação da Natureza classifica o Cordyceps como ameaçada, porque as mudanças climáticas e a coleta excessiva, devido ao seu grande valor econômico, são responsáveis pela queda populacional dessa espécie.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Yan Ney.