O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, apontou 2023 como o ano mais quente em 125 mil anos, quebrando uma série de recordes. Esse dado traz consequências diretas à vida humana.

De acordo com a professora Maria Luiza Félix, do Departamento de Geografia da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Uerj, as elevadas temperaturas são uma combinação de fatores. Dentre eles estão o sistema de alta pressão atmosférico, que inibe a formação de nuvens e, consequentemente, a possibilidade de chuva; e o El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico atingindo diferentes áreas do planeta, sobretudo a faixa tropical onde está o Brasil.

Uma outra questão levantada por Félix é o efeito estufa. Esse fenômeno, em sua produção natural feita pela atmosfera, auxilia na absorção da radiação infravermelha emitida pelo sol, o que possibilita a regulação da temperatura da terra e a manutenção da vida. No entanto, seus gases são intensificados pela ação humana, o que o torna prejudicial.

Segundo o artigo “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas”, realizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), o cenário urbano será um dos mais impactados pelas condições climáticas. A grande concentração populacional, de imóveis e circulação de automóveis favorece o acontecimento de desastres naturais. A especialista Maria Luiza aponta que a situação do país é delicada, pois áreas como o Sul e o Norte já estão sendo severamente afetadas.

“Esse fenômeno vai causar chuvas torrenciais no Sul; além disso, secas severas na região Norte, como nós também estamos vendo com a redução da chuva justamente nas porções de floresta amazônica e isso aumenta o problema das queimadas”, explica Félix.

Por trás dessas questões descritas pela professora da FFP, existem alguns problemas apontados pelo estudo do Inpe. O instituto aponta que se nota nas cidades uma espécie de nevoeiro, provocada pela poluição do ar e acentuada pelas queimadas, o que pode tornar recorrentes casos de doenças respiratórias como asma, bronquite e pneumonia.

Já os episódios extremos de temperatura causam outros graves impasses à saúde humana. Mesmo com a capacidade humana de adaptação ao meio, as variações elevadas podem agravar problemas cardíacos e de hipertensão e aumentar a taxa de mortalidade principalmente em idosos e crianças. O estudante José Eduardo Lameira, de 17 anos, relata que durante as últimas ondas de calor sentiu forte desconforto, mesmo não possuindo histórico de doença prévia. Com as ondas de calor a sensação térmica tem se aproximado dos 50ºC.

“De qualquer forma, eu estranhei porque não foi aquele calor que a gente está acostumado aqui, aquele calor de verão básico. Eu comecei a sentir uma sensação estranha como se tivesse pesado, sabe ? E aí começou a vir tontura, desidratação, veio sono também devido ao cansaço causado pelo calor”, relembra José Eduardo.

Outro fator associado às crises do clima são as fortes chuvas causadoras de enchentes, inundações e deslizamentos. De acordo com a pesquisa do Inpe, esses acontecimentos têm efeitos na saúde no que diz respeito ao aumento de doenças infecciosas. Os desastres naturais fazem com que as águas da chuva entrem em contato com as superfícies contaminadas por agentes infecciosos, transmitindo doenças como gastroenterite, diarréias, hepatites virais (Tipo A), leptospirose e enteroviroses. Além disso, esse ambiente também favorece o acúmulo de água parada que propicia a formação de mosquitos transmissores de dengue, febre amarela e malária.

De acordo com a especialista Maria Luiza Félix, não existem soluções fáceis para a crise climática. Entretanto, é um tema que está no topo da Agenda Global, sendo assim líderes dos países, do setor privado e até mesmo da sociedade civil, deverão tomar medidas para reverter esse cenário a longo prazo.

“Por exemplo, os países que têm agricultura forte como o caso do Brasil, se sugerem a proteção e restauração dos ecossistemas naturais como as florestas, áreas úmidas e o próprio cerrado; uma outra medida é a transição para energia limpa e renovável”, exemplifica a professora.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Lorenna Rocha.