O Novo Ensino Médio, aprovado pela lei nº 13.415, de 2017, começou a ser implementado oficialmente neste ano nas escolas públicas e privadas do país, iniciando as mudanças a partir do 1º ano desta etapa de ensino. A proposta para reestruturação do Ensino Médio surgiu após a percepção de uma estagnação dos índices de desempenho dos estudantes brasileiros, com altas taxas de evasão e baixo nível de aprendizagem.

Entre as principais mudanças da reforma, está o aumento da carga horária e a possibilidade de alunos escolherem parte das disciplinas que desejam cursar, por meio dos novos itinerários formativos. Outras alterações são a divisão das disciplinas por áreas de conhecimento, a obrigatoriedade apenas de Matemática e Língua Portuguesa nos três anos de ensino médio e a implementação do Projeto de Vida.

De acordo com as novas diretrizes do Novo Ensino Médio, o objetivo do modelo é preparar os alunos para ingressarem no mercado de trabalho, fornecendo a eles o aprendizado acadêmico, autonomia e confiança necessários para trilhar os rumos de sua vida profissional.

No entanto, a implementação do Novo Ensino Médio começou sob críticas e questionamentos entre os docentes e discentes. Para o professor de História do Ensino Médio e mestre em Filosofia Luciano Bastos, estas mudanças não foram positivas e deveriam ter sido amplamente discutidas com a comunidade acadêmica e com os discentes que atuam nas escolas para que a reforma fosse executada de forma mais assertiva.

“Eu não acho que essa aplicação tenha sido positiva, apesar de achar que é bom o direcionamento para o mercado de trabalho, mas acho que esse Ensino Médio precisava ter uma consulta pública mais ampla, uma discussão mais ampla com a academia, com os professores que estão no chão de sala, para que ele fosse produtivo pro aluno e para a escola”

Além disso, mesmo com o início da reestruturação nos primeiros meses de 2022, o Novo Ensino Médio ainda é uma grande dúvida, tanto para os professores quanto para os estudantes, principalmente em relação ao acesso ao Ensino Superior. Na perspectiva do aluno do 1º ano do Ensino Médio, João Pedro Bizoni, fazer parte desse momento de transição causa ansiedade.

“A ideia da gente ter que experimentar uma coisa nova, que ninguém experimentou ainda, esse novo ciclo, dá bastante ansiedade.”

A partir da implementação da reforma, o Enem também precisará ser reformulado para estar alinhado com as novas diretrizes curriculares do Novo Ensino Médio. De acordo com o cronograma divulgado pelo MEC, o exame será dividido em duas etapas, sendo a primeira uma prova objetiva e interdisciplinar de conhecimentos gerais, incluindo redação, e a segunda terá questões objetivas e discursivas de conhecimento específico, que dependerão da escolha do candidato. Esse formato tem previsão para ser implementado em 2024, quando todas as alterações no Ensino Médio forem concluídas.

Para o professor de Geografia do Ensino Médio e do Pré-vestibular, Wallace Matheus Torres, a reformulação do Enem é válida, já que o modelo de exame atual é muito desgastante. Entretanto, Wallace aponta que essas mudanças podem afetar os candidatos que já estão se preparando para o modelo de prova atual.

“Eu acho que toda mudança é válida, ainda mais se o ponto principal é melhorar a avaliação do ensino, porque o Enem atual é um processo de prova muito desgastante. Porém, isso pode afetar bastante quem ta vindo num processo anual de estudo, se preparando para o Enem, para tentar entrar em cursos mais concorridos, porque em 2023 você está estudando para um tipo de prova e em 2024 você já vai estudar para outro tipo de prova, uma prova que é muito semelhante a alguns vestibulares do passado, só que aí você tinha um tempo de alguns meses para se preparar para o novo modelo de prova discursivo, e ao que tudo indica agora no Enem, você vai estudar pra caramba pra fazer um modelo objetivo, e na outra semana já tem um outro modelo discursivo.”

Do Rio de Janeiro para Rádio Uerj, João Gabriel Gomes