A cidade do Rio de Janeiro já enfrentou verões com recorde de temperaturas altas nas férias de janeiro, mas o mês não é de lazer para a maioria dos cidadãos. Muitos retornam ao trabalho ou aos estudos após as festas de fim de ano, e a locomoção pelas ruas da cidade tem se tornado cada vez mais uma experiência frustrante, não só por conta do calor, mas também pela ausência de infraestrutura nos ônibus. Os problemas de mobilidade urbana no Brasil começaram a partir da segunda metade do século XX. O êxodo rural, quando indivíduos migram do campo para as cidades, e o rápido processo de industrialização causou um forte efeito de saturação das metrópoles. Os moradores dessa região, que geralmente moram afastados do foco central das cidades, precisavam e precisam até hoje percorrer longas distâncias para poder trabalhar ou garantir necessidades básicas como educação e saúde.

A Prefeitura do Rio de Janeiro é responsável por fornecer subsídios às empresas de ônibus. Esse incentivo visa compensar o desfalque na passagem e promover melhorias qualitativas e quantitativas nos serviços de transportes públicos concessionados. Leandro da Rocha Vaz, chefe do Departamento de Construção Civil e Transportes da Uerj, detalha o funcionamento desse subsídio.

“As empresas alegam que o custo da passagem não é suficiente pra pagar despesas – custo fixo, ar condicionado ou a manutenção dos ônibus –, e aí a passagem teria que ter um valor maior. Então o Estado, o governo, o que eles fazem: mantém o valor da passagem num valor acessível para a população, e pagam a diferença para as empresas.”, aponta Leandro Vaz.

Mas ainda que a prefeitura arque com a despesa, a insatisfação populacional com os ônibus é recorrente e vem piorando. Os empecilhos se alargam e geram inconvenientes aos setores sociais, como o de transporte. Leonardo Braga, estudante de Teatro na UNIRIO com aulas ativas em janeiro, conta que se locomove com ônibus com frequência, mas reclama que os transportes que o deslocam para a faculdade estão quentes. Ele relata que a superlotação no transporte público e falta de infraestrutura dos ônibus implica, de certa forma, no aumento de seu uso por carros de aplicativos ou o Moovit, aplicativo de mobilidade urbana com foco em informações de transporte público e de navegação.

“Eu acho que existem outros problemas que fazem com que a gente opte por usar esses aplicativos, mas certamente fica muito difícil usar um transporte que não tenha ar condicionado, que já é cheio, que o número de pessoas dentro desse transporte deixa muito mais quente e alguns casos até que eu peguei de ônibus fechados que não estavam com ar condicionado ligado, então assim, também é um dos motivadores.”, opina Leonardo Braga.

Se falta qualidade em um serviço, a população acaba superlotando outro. A precarização dos ônibus induz os passageiros a buscar alternativas que possibilitem seu bem estar, segurança e agilidade no trajeto. Mas por dificuldades financeiras, causadas pelo cenário atual do país, muitas pessoas não detém muitos recursos para locomoção através de carros de aplicativo ou metrô, por exemplo, ficando à mercê da utilização apenas dos ônibus.

“Aumenta o transporte de vans ilegais, aumenta o uso de transportes de aplicativos, mas a grande maioria das pessoas continuam usando o ônibus porque não tem alternativa.”, informa Leandro Vaz.

A qualidade da locomoção dos passageiros não se restringe ao que é de direito dos indivíduos, como o bem estar de ir e vir, mas também atinge questões de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que o transporte coletivo eficiente diminui o número de carros nas cidades, os índices de poluição, acidentes e também a inatividade física.

“Afeta a qualidade de saúde das pessoas. A mobilidade urbana vai continuar, os ônibus vão continuar trafegando, né? Em função de muitas linhas não terem ar condicionado, sobrecarrega outros meios que tenham ar condicionado, como metrô e trem.”, salienta o chefe de departamento.

Para atingir patamares melhores na condução dos passageiros do Rio de Janeiro, uma cidade quente e que comporta muitas pessoas, é necessário que medidas sejam tomadas. Agregar veículos modernos às empresas de transporte, democratizar o seu acesso e aumentar a possibilidade de escolha dos passageiros para que possam escolher melhor suas opções de viagem.

“O que tá faltando é a prefeitura ou o Estado cobrar e fiscalizar mais as empresas porque é direito do cidadão e obrigação das empresas. Muitas empresas, nesse período de férias escolar, diminui a frequência de ônibus e põe pra circular de janela aberta, o que não pode. Então, o Estado tem que entrar, tem que ter uma ação mais forte pra que isso reduza a incidência, porque na verdade o que tá acontecendo é uma grande falta de respeito com a população.”, sustenta Vaz.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Maria Eduarda Oliveira.