De acordo com os últimos dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, o país produz cerca de 250 toneladas de lixo por ano. Segundo o documento, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 40% destes resíduos são descartados incorretamente. Este fenômeno traz consequências para o meio ambiente,  pois o descarte inadequado polui solos, mares e rios.

A fim de reduzir a quantidade de lixo produzido por dia e melhor gerenciá-lo, é necessário conhecer as diversas formas de reaproveitamento de resíduos sólidos. Para isso é preciso que iniciativas como a coleta seletiva sejam mais utilizadas em todo o país, contribuindo como fonte de renda para milhões de brasileiros. Uma forma comum de reaproveitamento é o artesanato, a partir da confecção de peças como cordões, enfeites e esculturas. A química Elaine Torres, coordenadora do projeto de Capacitação da Comunidade Local sobre o Meio Ambiente, da Faculdade de Tecnologia da Uerj, destaca a importância dos resíduos para esse tipo de arte.

“O resíduo urbano ele é pra artesanato, ele é muito difundido, primeiro porque é mais barato, e depois, por conta da qualidade desse material. Cerca de 40% a 45% do artesão utiliza desse material para fazer suas peças.”

A partir do conceito de “upcycling”, o projeto tem a proposta de unir o desenvolvimento econômico ao ambiental e social.

“O projeto que eu coordeno aqui em Resende oferece oficinas de cartonagem utilizando papel, tetra pak, papelão e tecidos descartados. As oficinas, elas têm a função de sensibilização, a pessoa vai fazer os seus produtos, tem a possibilidade de venda, mas também vai aprender sobre a importância de ter atividades sustentáveis, de separar os resíduos, de jogar seus resíduos de forma racional para não poluir  meio ambiente”

Além da grande reutilização na arte, o descarte correto também favorece recicladores que trabalham em cooperativas e indústrias, transformando resíduos em novas matérias-primas. Luana Fernandes, gestora de resíduos de uma cooperativa do Rio de Janeiro, aponta que os centros de reciclagem proporcionam milhares de empregos ao redor do Brasil, gerando mais renda para a população e emprego para quem precisa. No entanto, para que os cidadãos consigam ajudar não só o meio ambiente, mas também as pessoas envolvidas no processo, é preciso ter alguns cuidados.

“Separar o orgânico inservível do reciclado, isso já é bastante importante. O certo seria né, ser separado tetra pak, plástico, papelão, vidro, isopor, tudo certinho, mas como a gente sabe e entende que a logística hoje em dia das pessoas é muito corrida, a gente pede que seja separado em reciclado e não reciclado. O seu lixo que vai para a Comlurb, para coleta pública, coloque numa sacola preta, e o lixo que vem pra gente, para coleta seletiva, venha numa sacola transparente. Facilita pra gente ver o resíduo, para coletar, e para reciclar.”

Apesar da sua importância para o ciclo de produção, os catadores de resíduos exercem um trabalho árduo e, muitas vezes, sem remuneração suficiente. Mesmo sendo os responsáveis pelo recolhimento dos materiais que serão reciclados, os trabalhadores ainda encontram muitas dificuldades, como relatam os catadores Marta e Sebastião de Castro.

“Olha, a nossa maior dificuldade é eles não separarem, entendeu? A reciclagem, garrafa, latinha, plástico duro. E quando a gente vai mexer vem xingam, olha para gente de cara feia, esculacha, é a nossa maior dificuldade você vê os sacos, mas tá tudo bem amarrado, bem amarrado, você é obrigado a rasgar e tirar as garrafas. Aí eles já vem com ignorância, expulsando, xingando…”

Os pequenos hábitos em casa são fundamentais para a construção de uma sociedade mais sustentável. O passo mais simples é a separação dos tipos de materiais recicláveis, que precisam ser depositados nas lixeiras já limpos, livres de líquidos residuais ou alimentos e sujeiras. Além disso, quem possui plantas pode utilizar uma composteira, que é uma estrutura capaz de transformar lixo orgânico em matéria não-prejudicial ao planeta, diminuindo a poluição gerada em lixões e aterros sanitários. O professor e instrutor de Yoga Shivam comenta sobre sua experiência com o uso da composteira, inclusive em espaços pequenos.

“Na verdade, o apartamento é até melhor do que casa. A composteira, ela exige um pouco de sombra. Se você tiver um apartamento que tenha um pouquinho de área arejada, já é suficiente. Não necessita ser casa, porque tá caixa né, então a gente não precisa da terra. Se você tem plantas no apartamento, ótimo, porque você vai ter o adubo ali produzido na sua casa, e você pode também, se você não utilizar a terra da sua composteira, fazer uma doação.”

Refletir, reduzir, reutilizar, reciclar, respeitar, reparar, repassar e responsabilizar-se. Essas são as atitudes necessárias para a continuidade da vida no nosso planeta.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Beatriz Pereira.