Os aparelhos eletrônicos, como o celular e a televisão, fazem parte do cotidiano de muitas famílias brasileiras. De acordo com o último levantamento realizado pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, o país conta com cerca de 152 milhões de usuários. No entanto, o uso dos aparelhos deve ser realizado de maneira controlada e responsável, principalmente, entre crianças.
A pandemia de Covid-19 e o consequente isolamento social provocaram impactos nocivos na utilização desses eletrônicos. O ensino remoto e a impossibilidade do encontro presencial com amigos fez com que o uso em excesso de celulares e de computadores se tornasse, ainda mais, parte da realidade de jovens e crianças. É o que constata o estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG. Para 51% dos responsáveis entrevistados, o tempo de tela dos filhos foi “extrapolado excessivamente” durante o período pandêmico. Raphael Cavalhiere, professor e pai de três filhos, assume que é um desafio complexo controlar o uso.

“Eles que já nasceram nessa era tecnológica, torna-se ainda muito mais difícil, é como se já fizesse parte da vida e da rotina deles. Inclusive, eles me ensinam certas coisas, certos aplicativos, enfim, eles que mostram pra mim, eu descubro através deles. Então, assim, é muito difícil separar isso, eu acho que não tem mais como separar, o que tem mesmo é como tentar controlar e ver, mostrar para eles que tem prioridades, que esses recursos tecnológicos podem ser muito bons se eles tiverem equilíbrio no uso.”

Compreendendo a importância do equilíbrio no tempo de tela, a Sociedade Brasileira de Pediatria, SBP, divulgou o pesquisa “#MenosTelas #MaisSaúde”, com orientações e alertas para os responsáveis. O estudo recomenda que crianças até dois anos não devem ser expostas às telas, mesmo que passivamente. Dos dois aos cinco anos, uma hora de uso é o máximo indicado. Dos seis aos dez, o uso máximo deve ser de duas horas, enquanto dos 11 aos 18 anos o limite é de três horas.
Dessa maneira, o uso intenso dos eletrônicos pode causar prejuízos à saúde de crianças e jovens. Conforme indica o material da Sociedade Brasileira de Pediatria, o atraso no desenvolvimento da fala ocorre com frequência em bebês que foram expostos às telas por longos períodos. Além disso, o uso do celular e das redes sociais como forma de afastar o que o Manual chama de “emoções difíceis”, como a raiva e a tristeza, pode causar dependência dos eletrônicos em crianças e adolescentes.
A SBP ainda alerta para os efeitos da dependência em jogos e as suas consequências, como o agravamento da depressão, da ansiedade e do tecnoestresse entre o público infantojuvenil.  Por isso, é preciso que o responsável fique alerta aos sinais dados pelas crianças, assim como aponta a Dra Evelyn Eisenstein, colaboradora do estudo e integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria.

“O primeiro, primeiríssimo sinal é transtorno de sono, a criança que dorme mal, dorme pouco, acorda no meio da noite ou acorda e, no dia seguinte, está extremamente cansada porque ficou muitas horas, o que a gente chama de uso excessivo e prolongado das telas. A partir daí, todas as alterações, como já falei, comportamentais, principalmente irritabilidade, ansiedade e depressão e tudo mais. Mas existem pequenos transtornos que os pais não percebem, como transtornos alimentares, transtornos de postura, transtornos visuais, transtornos auditivos.”

O documento da SBP alerta ainda sobre a importância do controle dos pais nos conteúdos que são consumidos por seus filhos, e também sobre a necessidade de supervisão durante o uso dos eletrônicos, evitando que as crianças fiquem isoladas com os seus celulares. Igor Lemos, doutor em neuropsiquiatria, ressalta como é fundamental evitar os extremos e como o exemplo dos pais é essencial.

“Então, qualquer tipo de extremo, de proibição completa ou de liberação completa ou de não demonstrar quais são os comportamentos que devem ser colocados em prática, tudo isso é problemático. Se a gente entende que boa parte das teorias de aprendizagem humana, elas falam sobre o potencial da observação como forma de aprender algo, se os pais não controlam o uso de telas, a gente entende que a criança vai ter uma dificuldade de seguir aquilo, o que torna até um movimento hipócrita.”

Entendendo a necessidade desse equilíbrio, Thays Sarno, farmacêutica e mãe, afirma que evita deixar a televisão ligada ao longo do dia e que procura maneiras de contornar o uso da tecnologia como “chupeta digital”.

“Como ela não tem contato com a televisão ligada o dia inteiro, o celular não é apresentado para ela constantemente, ela tem a ideia, acredito eu, de que o contato com esse tipo de exposição é pontual. Eu consigo distrair ela com outras atividades, com outras brincadeiras, com mais facilidade. Lógico que ela reclama, porque ela é criança, quando eu tiro ela do desenho que ela está assistindo, mas se eu consigo distrair ela com outra atividade que chame mais atenção, isso acaba facilitando o término daquela atividade, entrando em outra que prenda a atenção dela.”

Controlar o tempo de tela não é uma tarefa fácil, mas é essencial para a promoção e manutenção de uma vida saudável e equilibrada. Por isso, o bom uso das tecnologias deve ser um pilar central no dia a dia das famílias brasileiras.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Paula Freitas.