O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com o presidente argentino Alberto Fernandez em janeiro, numa das primeiras viagens de seu atual mandatoNa ocasião, o mandatário brasileiro anunciou a possível criação de uma espécie de moeda para facilitar transações comerciais na América Latina, provavelmente chamada de Sur. 

O Sur, que na tradução é “Sul”, não se propõe como  moeda física que substituiria o Real ou o Peso Argentino para adotar uma única unidade entre os países envolvidos, como é o Euro.  Ela funcionaria como uma unidade de conta para as trocas comerciais entre os membros do acordo. 

O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Uerj e atuante em temas relacionados ao Mercosul, Alexis Toribio, explica que a economia brasileira é fortemente dolarizada, ou seja, para realizar transações internacionais utiliza o dólar como base.  A nova ideia é adotar a unidade de conta Sur como crédito após a troca comercial. 

“Qual é a ideia de criação do sur? Você ao exportar, por exemplo, o Brasil exporta uma quantidade de soja pra Argentina. Essa exportação vai gerar um crédito para o Brasil nessa unidade de contas chamada Sur, que vai ser comandada por um banco que vai ser supranacional. Então essa esse crédito de Sur devido, decorrente da exportação brasileira fica lá registrado.”

Ele também ressalta que a soberania das moedas nacionais será mantida, porque o Sur, basicamente, se propõe a não ter necessidade de comprar dólar para comercializar com os países do bloco. 

“A soberania monetária é mantida para esses países. O Sur vai ser fundamentalmente uma unidade de conta pra dizer que eu não preciso trocar dólares pra comprar produtos da Argentina, nem a Argentina precisa trocar dólares pra comprar produtos do Brasil.”

Mesmo anunciada pelo presidente Lula, essa ideia não é nova.  Em 2021, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu uma moeda única para os países do Mercosul. Em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a atual proposta é diferente, porque prevê, ao invés disso, uma unidade de conta para comércio entre os países. 

Para Lia Valls, professora da Faculdade de Ciências Econômicas e membro da Pós Graduação em Relações Internacionais da Uerj, há uma tendência global para reduzir a hegemonia do dólar em trocas internacionais.  Isso ficou ainda mais reforçado com a Guerra na Ucrânia, na tentativa de reduzir os impactos dessa moeda nas economias nacionais. 

“Isso ficou reforçado agora com a questão da guerra da Ucrânia. Que mais do que sanção comercial, a força dos Estados Unidos são as sanções financeiras mesmo. A questão do dólar. Na hora que ele congela o que os países têm em dólar, isso dá um baque muito grande. Então eu acho que dado esse cenário pode ser que haja uma procura maior dos países procurarem criar seus próprios mecanismos.”

Mas Lia Valls ressalta que a implantação dessa unidade de conta não é tão fácil assim, porque a ferramenta precisa ser aceita por diversos setores do comércio. Não adiantaria o governo dizer que vai utilizar esse mecanismo, se os importadores e exportadores não adotarem em conjunto. Ela afirma que a integração regional é importante e a ideia é muito bem vinda, porque o “Sur” seria uma forma de fortalecer o bloco. 

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Yan Ney.