Considerado uma aposta promissora na área da comunicação, o mundo dos podcasts alcançou a marca de 30 milhões de ouvintes no Brasil no ano de 2022, segundo dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, Ibope. Ainda de acordo com o instituto, o Brasil é o terceiro país que mais consome podcast no mundo, ficando atrás apenas de Irlanda e Suécia.

De acordo com a plataforma Spotify, o surgimento deste formato no país data do ano de 2006, com a criação dos programas Nerdcast e Café Brasil.  Mas a origem em si é de 1999 após a implantação do código RSS, que consiste em um sistema que distribui informações em tempo real pela internet.

Segundo Mauro Amaral, produtor de podcast e pesquisador em tecnologias de comunicação e cultura pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Uerj, o podcast é um meio mutável, que se revigora várias vezes e em diferentes formatos. Para o pesquisador, seu primeiro auge aconteceu em 2014 com o programa americano The Serial, onde a indústria de podcast se refunda como possível meio de comunicação de massa e não somente de nichos. Além disso, ele ainda aponta que, entre os anos de 2016 e 2017, o formato se submete e se conecta com a realidade das novas plataformas, assumindo um novo patamar de distribuição e adotando novas linguagens.

“Hoje eu acho que ele sofre certa mutação para poder participar do diálogo dessas redes novas, onde o conteúdo até mesmo já começa a ser secundário e a performance frente ao microfone começa a atrair mais atenção. Então eu acho que o podcast mais se metamorfoseia do que se consolida”, explica Mauro.

O podcast no Brasil tem sido muito impulsionado por aplicativos como o próprio Spotify, Google Podcasts e Apple podcast, entre outros. Mas, do ponto de vista dos produtores, o que deve ser feito para que os algoritmos dessas mesmas plataformas notem seus conteúdos? De acordo com o especialista, os algoritmos precisam ser treinados e esse processo leva em média de 6 a 9 meses. Então você, enquanto produtor, tem que ser fiel à periodicidade proposta; ter técnicas de SEO, com boas descrições dos episódios do seu programa; falar sobre temas do seu domínio ou que estejam em alta; trazer entrevistados bastante conhecidos midiaticamente; e, principalmente, ser insistente. Todos esses pontos, além de formar uma estratégia de reconhecimento para o algoritmo, também ajudam a fidelizar o público.

Com base em dados da Associação Brasileira de Podcasters, cerca de 70% dos ouvintes o consomem durante um deslocamento ou enquanto realizam alguma tarefa. Segundo Amaral, o podcast virou de fato uma “mídia enquanto e de construção” e, em função disso, é possível aprofundar conhecimentos que as redes sociais instantâneas não permitem.

“Esse é um dos principais diferenciais e leva a características importantes como o podcast ter ouvintes fiéis. Quando você anuncia um produto no podcast, por exemplo, pesquisas indicam que 60% das pessoas tendem a converter. Então essa profundidade, essa recorrência e esse compromisso com o aprofundamento e com a história bem contada faz com que a fidelidade também aconteça. Tudo isso desequilibra um pouco o cenário das mídias e transforma o podcast em uma escolha bem interessante”, pontua o especialista.

Apesar de todo crescimento, durante a pandemia de Covid19, a produção de podcasts brasileiros teve um salto. De acordo com um estudo da empresa norte-americana Voxnest, referência em tecnologias para a indústria de áudio, o Brasil foi um dos três maiores produtores desse período. Gracielle Anacleto, estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Uerj, uma das fundadoras e produtoras do “Chicas del Podcast”, conta que foi nesse momento que juntou suas amigas e tirou do papel a ideia de criar um podcast.

“Eu acho muito surreal a gente ter tirado isso do papel, a gente ter transformado isso em algo concreto… A gente se incentiva muito a realmente criar e ir atrás do que a gente quer, a gente se apoia muito e eu acho que quando a gente está ali criando pro Chicas é exatamente isso”, expressa a produtora.

Segundo Anacleto, as reuniões para o podcast promoviam muito mais que conhecimento sobre as séries assistidas. Era um momento cheio de afeto em meio à crise de saúde mundial que foi a pandemia.

“Então o momento de criar sobre o Chicas e para o Chicas é um momento também de encontro da gente, sabe. É o momento que a gente tem para conversar, para desabafar, para rir uma com a outra porque a gente grava o episódio inteiro rindo, é o episódio inteiro cheio de piada interna. Então é isso, eu acho que é um momento muito específico, muito nosso, muito íntimo, da gente transpor em uma ideia concreta tudo que a gente já é na vida real”, ressalta Gracielle.

Embora já exista uma diversidade de assuntos e temas debatidos, o pesquisador Mauro Amaral, reforça que o formato storytelling, uma espécie de jornalismo narrativo, pode ser melhor trabalhado. Além dele, o especialista ressalta que o gênero infantil também deve ser mais explorado, pois aqui no Brasil a oferta desse formato ainda é muito baixa.

Do Rio de Janeiro para a Rádio Uerj, Lorenna Rocha.