Torcedores do Flamengo e do Fluminense entraram em conflito nos arredores do Maracanã, no último dia 18, antes da disputa do clássico carioca. O incidente, que logo recebeu intervenção da polícia, ocorreu na Rua São Francisco Xavier, entre a rua Visconde de Itamarati e a Avenida Maracanã.

Este caso representa mais um ato de violência entre torcidas no futebol brasileiro, que há tempos tem sofrido com essas situações. No entanto, não há números concretos que mostrem o aumento ou diminuição desses incidentes, mas fato é que a participação da mídia tem contribuído para escancará-los à sociedade. Os conflitos, que antes eram exclusivos das arquibancadas, agora também estão fora dos estádios, prejudicando a comunidade que mora no entorno, como no caso citado.

A professora da universidade e pesquisadora do LEME, o Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte, Leda Costa, nos revela que é preciso analisar a formação social e a cultura do torcer no Brasil. 

“De fato, as torcidas organizadas tem um ethos da violência que elas gostam de exaltar, isso está no cântico delas. Dentro do estádio ou fora do estádio a gente ouve discursos do tipo ‘temos que banir a torcida organizada.’ ‘Isso é culpa dos torcedores organizados.’ ‘Isso é culpa de um tipo de torcida que não é verdadeira.’ A gente precisa pensar o fenômeno do torcer de uma maneira um pouco mais complexa pra poder entender esses fenômenos de violência que acontecem.”

Uma pesquisa realizada pela Uerj indica que, para 68% dos torcedores, a violência é o principal motivo para não ir aos estádios. Segundo Lívia Torres, vice-presidente de uma torcida organizada do Botafogo, a Fogoró, esses episódios de violência afastam o torcedor comum dos estádios. Para transformar o local em algo agradável e terminar com os incidentes, ela acredita que a solução possa estar no diálogo entre os líderes das organizadas.

“E devido a todas essas manifestações de coletivos, movimentos, a polícia-civil, junto com o Botafogo, está instaurando um projeto piloto colocando policiais civil mulheres pra atender toda e qualquer mulher que sofra qualquer violência… Assédio, violência física. Até bacana porque vai ser o atendimento das autoridades femininas para com o público feminino presente no estádio”

Para atuar nos casos de contenção a esses episódios, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro possui a cooperação do BEPE, o Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios. Ele visa contribuir para os estudos da segurança em eventos esportivos.

Ainda segundo a professora Leda, grande parte dos casos de violência entre torcidas poderiam ser resolvidos no momento em que as ações da polícia deixassem de ser punitivas. Para ela, quando se faz isso, o Estado perde a chance de dialogar com esses grupos. Mesmo assim, não há justificativa para esses incidentes quando há mortes e pessoas feridas. Para evitar esses casos, o Estado e as instituições desportivas precisam se preocupar muito mais em prevenir do que permitir que os casos de violência aconteçam. 

Do Rio de Janeiro para Rádio Uerj, Yan Ney.